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Adeus


Ao fim de 15 anos voltar e encontrar tudo igual foi um experiência agridoce.
Isto porque as coisas continuam nos seus sítios como se o tempo ali não existisse: as casas, as ruas, as pedras, as árvores, as fontes... mas também porque aqui são as pessoas que assinalam a mudança dos tempos.

A vida é uma constante mudança e, no entanto, a contradição do que era ainda é mas que nunca mais voltará a ser, manifesta-se no rosto de tantos conhecidos que já me são desconhecidos. Que o tempo faz questão de lhes faz lembrar que, ali também existe.

A maquina fotográfica que desejava empunhar como meio de exorcizar todos os meus demónios que renascem das cinzas do passado ficou timidamente pousada no chão do carro.
Na minha cabeça fizeram-se muitos "clics" mas volto para casa com a cabeça a transbordar de imagens das quais vão ficando mais confusas, difusas e algumas irão mesmo desvanecer. Ainda mais dispersa do que cheguei, inebriada com o sabor ácido da minha boca que teima em não se diluir e sem conseguir digerir o emaranhado de emoções que se acotovelam dentro de mim estarei mais perdida ou mais achada?

Da forma mais rude fui arrastada pelo passado e se por momentos quis lá ficar no mesmo momento também quis nunca lá ter estado.
Ecoa na minha cabeça as últimas intimas e tremidas palavras proferidas de uma mulher ao seu falecido marido:

"Adeus, meu querido..."

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